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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A inteligente arte que "incomoda"

Dois filmes maravilhosos que assisti nas últimas semanas:

"Do começo ao fim" e "Abraços partidos".

"Do começo ao fim"
De Aluízio Abranches


Foto: Google. Filme "Do começo ao fim".


Falsos moralistas de plantão terão um choque ao vê-lo. Uma amiga, ao sair da sessão de cinema disse-me ao telefone, "eu não indico, os pais se comportam como se achasse natural a relação afetivo sexual entre os dois irmãos homens! Nada fazem, muito estranho!". Quando ouvi isso pensei, "isso é arte! Incomodou? Assistirei hoje!".
Falei para minha amiga que essa é a função da arte, causar impacto, fazer pensar, sentir ou confundir, não é influenciar, manipular, perverter e muito menos convencer ninguém a nada. É uma espécie de catalisador capaz de fazer as pessoas pensarem sobre suas vidas, cultura e valores. Se elas estiverem dispostas e aptas, é claro! Porque tem gente que está fechada, rígida, inerte e com medo de crescer, sair do lugar, perder um pseudo auto controle.
Não ver o filme por preconceito frente a trama é dizer, "quero continuar ignorante". Ninguém se torna homossexual e dá em cima do próprio irmão só porque viu a um filme, muito menos passa a achar isso natural. Mas nos faz pensar sobre coisas diferentes das habituais, nos faz questionar a realidade.
Os quase nulos patrocinadores não quiseram sair do anonimato. De fato, ver dois irmãos prestes a ter uma caso de amor envolvendo sexo é de incomodar qualquer um, mas o mais chocante já aconteceu, mortes de homossexuais por homofóbicos loucos. Isso a sociedade já permitiu.

Morte por preconceito x amor que envolve tabu. Tabu esse descrito por Freud que nos faz entender muitas coisas, o horror do incesto, por exemplo.
Em alguns momentos, percebia uma histeria quase que geral da platéia, algumas cenas causavam incômodo mesmo, havia uma conversa, inquietação, beirando a falta de educação típica dos cinemas lotados de gente que não sabe assistir contemplando. Tinha uma parte da platéia que mais parecia mais uma mesa de bar meio a copa do mundo e um homem na cadeira de trás que não parava de chutar a poltrona ao lado da minha, este homem acabara, sem perceber, de adotava o mesmo título do filme, "do começo ao fim" o homem chutava a poltrona. Maldita falta de educação e respeito!

É difícil assistir ao filme, pois estamos impregnados cegamente pelas regras que nos constróem, mas ao mesmo tempo o filme traz uma delicadeza admirável ao tratar assunto tão delicado, sem levar os humores dos pais ao limite, a agressão ou a usar o ego ideal. Os pais vêm que algo está acontecendo, mas não se atrevem a fazer nada em especial afinal, separar os irmãos? O que seria mais correto? E o que é correto? Por que é correto? Os filhos sempre se respeitaram muito.

Não defendo a prática do que vi. Isso é claro. Mas a obra nos leva a refletir sobre uma outra forma de ver e agir, sem controlar, usar da força, agressão, repressão ou julgamento e muito menos do que se espera das grandes massas.

O autor conseguiu trazer a luz da reflexão sobre os nossos valores e educação, uma reflexão séria que nos leva a outros temas e situações da vida.

Unir sexo e tabu a delicadeza de forma bastante poética e respeitosa foi um aspecto de sucesso do filme, apesar de sua polemicidade.
E viva a criatividade!
[Aluisio Abranches é cineasta brasileiro. Acumulou experiências trabalhando como assistente de direção e produtor de vários filmes, estreando na direção de longas-metragens em 1999 com Um Copo de Cólera, inspirado na novela homônima de Raduan Nassar. Aluísio se formou primeiramente em economia.]


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"Abraços Partidos"

De Pedro Almodóvar


Foto: Google. Filme "Abraços partidos"

Se for ler a sinopse de "Abraços partidos" não o assistirá, pois não expressa nada do que verá. Na sinopse que li passava ser um filme depressivo, triste e monótono. Acabei vendo-o por causa do horário e não pela motivação natural que a arte me traz. O filme já estava começando, mas também não deixaria de ver um filme de Almodóvar, o veria nem que fosse em outro momento.

Não me arrependi. O filme é muito interessante e prende a nossa atenção. Almodóvar sempre surpreende com suas tramas nada convencionais e Penélope Cruz se mantém linda e talentosa com um ar de "Bonequinha de Luxo" arrebatadora.

[Pedro Almodóvar Caballero (Calzada de Calatrava, 24 de setembro de 1949) é um cineasta, ator e argumentista espanhol.
Almodóvar nunca pôde estudar cinema, pois nem ele nem sua família tinham dinheiro para pagar seus estudos. Antes de dirigir filmes foi funcionário da companhia telefônica estatal, fez banda desenhada, ator de teatro avant-garde e cantor de uma banda de rock, da qual participava travestido. Foi o primeiro espanhol a ser indicado ao Óscar de melhor diretor. Homossexual assumido, seus filmes trazem a temática da sexualidade abordada de maneira sublime.]


Vamos dar bilheteria aos filmes nacionais e espanhóis!

Por Cintia Liana

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