Para muitos, psicólogo não pode ter defeitos ou problemas e não poder tê-los já um defeito. Que horror não ter esse direito tão humano...!
Todos podem ter defeitos e sempre serão um ser humano normal com problemas, mas se for psicólogo não é um ser humano com problemas, porque ele não é ser humano, ele é um “psicólogo com problemas”.
Se você está ansioso, tudo bem, é um ser humano passando por um momento difícil, mas se eu estivesse ansiosa seria um absurdo, porque eu não passaria de uma “psicóloga ansiosa”.
Estava contando a duas amigas que algumas pessoas, profissionais de psicologia, tinham alguma restrição em se abrir por serem sempre confundidos com super heróis da emoção e se tinham algum problema e falavam sobre ele, eram mal vistos e mal interpretados, “porque psicólogo não pode ter problemas”. Ou seja, o mesmo fato que os fortalece aos olhos dos outros, os deixa expostos e fragilizados. E quando alguém ouve isso não ouve de uma ser humano fragilizado, ouve de “um psicólogo fragilizado”. Mas as duas discordaram da minha explicação, é claro.
Ironicamente, numa discussão dez dias mais tarde, uma dessas duas amigas me disse agressivamente, “você é ‘a psicóloga mais paranóica’ que eu já vi”. Porque ela não disse a “pessoa mais paranóica”? hehehe Eu não estava desempenhando minha profissão com ela e nem estava sendo psicóloga na hora do desentendimento.
Da forma que ela falou, a ofensa não vai só para a pessoa, ela vai também e principalmente para a parte profissional. É um desrespeito duplo, uma ofensa dupla.
Agradeço a parte que me toca. No bom sentido, uma certa “paranóia” é algo importante para tornar um profissional da minha área mais competente.
A verdade é que quem não quer enxergar nada e vive nas nuvens se incomoda com quem quer ver demais.
Enquanto isso eu me trabalho para não precisar de ninguém para me guiar e me mostrar o caminho. Tento enxergar cada vez mais os sinais e entender o ser humano, matéria prima do meu trabalho.
Enquanto isso eu me trabalho para não precisar de ninguém para me guiar e me mostrar o caminho. Tento enxergar cada vez mais os sinais e entender o ser humano, matéria prima do meu trabalho.
Teóricos falam que o que nos faz mais capazes de ser um instrumento de auto conhecimento é justamente a nossa humanidade, sermos capazes de experimentar os sentimentos inerentes ao ser humano, ao ser que está alí, na nossa frente, no sething terapêutico.
Nos diferenciamos muitas vezes pela forma de estar, de passar pelo problema com maior preparo e em ter a exigência e urgência em sermos mais maduros porque nos sentimos com a responsabilidade na vida de ajudar também o outro a amadurecer. Mas podemos experimentar indignação, dúvida, tristeza, medo.
Talvez o meu maior erro foi tentar fazê-la enxergar o que ela não estava querendo e nem preparada para isso. Nessa momento, talvez eu tenha deixado meu lado psicóloga me trair, meu lado "psicóloga ansiosa".
Eu fico pensando... Por que será que eu gosto tanto daquela frase, “para bem entendedor meia (...)?
Cintia Liana
Cintia Liana
Por que não atrelar o adjetivo à pessoa e sim ao psicólogo? É porque ele tem a obrigação de ser perfeito? De estar acima do bem e do mal?
Quer saber, meu bem, sobe no ônibus, sobe?
Foto: Google Imagens
Amanhã vai ter alguém dizendo, "uma psicóloga colocando esta foto do ônibus deste bairro aí...?"
Essa pessoa tem que subir no ônibus e ir até o fim de linha. hahaha
Por Cintia Liana