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domingo, 29 de novembro de 2009

"Fada da Adoção"

Foto: Cintia Liana no Jornal Correio da Bahia, 29 de novembro de 2009.

"Fada da adoção". Esse foi o título ultilizado pelo jornalista Sylvio Quadros para a matéria que fez sobre mim e sobre meu trabalho com adoção de crianças.

No início da entrevista, pouco depois de ter sido procurada pelo Jornal Correio da Bahia, que sempre mostra interesse em minhas andanças e estudos, achava que o tema seria adoção, mas o jornalista muito tranquilo e simpático me advertia que a matéria era sobre meu trabalho social.

Enfim, falei de adoção, mas tive que falar bastante de mim. São dois assuntos totalmente correspondentes. De toda forma, falei bastante de adoção, pois não há tema mais lindo e encantador.


Resultado, uma matéria muto bonita, com um toque de magia dado pelo jornalista e uma foto muito criativa do fotógrafo Robson Mendes.


Obrigada Correio!


Segue a matéria para quem mora fora da cidade ou do País e que não leu:


Matéria de 29 de novembro de 2009 do Jornal "Correio da Bahia".


"Fada da Adoção"


"Ela não tem asas ou varinha de condão, mas há quem ande falando justamente o contrário. Para muitos pais que adotam filhos, a psicóloga baiana Cintia Liana - 33 anos, duas tatuagens e um diploma em Campinas (SP) - é uma fada madrinha; ou, mais precisamente, a “fada madrinha dos pais adotivos”.
O apelido surgiu há três anos, no tempo em que Cintia ainda organizava palestras para pais no Juizado de Menores, onde entrou em 2002 como voluntária. De lá para cá, a loira de riso fácil e fala ligeira não parou mais. Montou um grupo na internet para tirar dúvidas sobre adoção de órfãos, concluiu uma pós-graduação em casal e família (dessa vez em Salvador), deu aulas em faculdade (“os alunos são superapaixonados por mim”) e fez um curso de um mês e meio na Itália. Hoje, mantém um blog (
http://psicologiaeadocao.blogspot/. com) sobre o assunto e atende em consultório.
Além da experiência, ganhou amigos.


“Hoje, as pessoas me ligam de todas as partes do Brasil”, afirma Cintia. “Quando meu grupo de discussão na internet chegou a 230 membros, achei que já era hora de fazer um recadastramento e limitar o número de participantes. Os pais falam muito de suas intimidades, e isso é coisa séria. Muita gente manda fotos, mensagens de apoio e perguntas. É ali que muitos manifestam o desejo de adotar”.
Na entrevista que concedeu ao CORREIO, Cintia fez honra ao apelido que ganhou de uma mãe. Em dado momento, sua voz embargou enquanto contava a história de um garoto que, mesmo com deficiência física, vivia feliz com a esperança de ter uma família; seus olhos, grandes e curiosos, marearam de lágrimas. “As pessoas ainda têm receio de adotar, mas elas precisam saber que isso liberta a alma. Toda relação de amor surge da convivência e do respeito, e não da herança genética”, diz.


Para os interessados, no entanto, não basta só interesse. Apenas o Juizado de Menores pode avaliar quem está apto a adoção. Cintia, do seu consultório, fica encarregada de aconselhar, preparar e, principalmente, quebrar preconceitos.“Muitos pais me procuram com medo de adotar crianças mais velhas, semenxergar que elas já vêm com um repertório, uma riqueza e a consciência de que desejam ter uma família”.


Durante a entrevista, a psicóloga aproveitou ainda para quebrar a esperança de futuros pretendentes. Em janeiro, Cintia volta à Itália com um propósito acadêmico (planeja fazer um curso sobre a Escola de Milão, “referência mundial em sua área”) e outro romântico (“meu noivo é italiano e vou aproveitar pra visitá-lo”, revela, com indisfarçada timidez). Afinal, a “fada” também é humana.
Por SYLVIO QUADROS."


Por Cintia Liana


sábado, 28 de novembro de 2009

Não te enganes

Foto: Rights Clarke. Getty Images.

"Mulher, não te enganes,
o homem que te ama
é o único que tem valor".

Cintia Liana


Indico ler ao assistir "Primo Basílio". A obra em vídeo está muito boa, com Débora Falabella, Reynaldo Gianecchini, Fábio Assunção, Glória Pires, Guilherme Fontes, Simone Spoladore, Zezeh Barbosa e outros. Com direção e produção de Daniel Filho.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ordem e Amor

Foto: Cintia Liana

O amor preenche o que a ordem abarca.
O amor é a água, a ordem é o jarro.

A ordem ajunta,
o amor flui.
Ordem e amor atuam juntos.

Como uma linda canção obedece às harmonias,
assim o amor obedece à ordem.
Assim como o ouvido dificilmente se acostuma
às dissonâncias, mesmo quando são explicadas,
assim também nossa alma dificilmente se acostuma
ao amor sem ordem.

Muita gente trata essa ordem
como se ela fosse uma opinião
que se pode ter ou mudar à vontade.

Contudo, ela nos preexiste.
Ela atua, mesmo que não a entendamos.
Não é inventada, mas encontrada.
É por seus efeitos que a descobrimos,
Como descobrimos o sentido e a alma.

Muitas dessas ordens são ocultas. Não podemos sondá-las. Elas atuam nas profundezas da alma, e freqüentemente as encobrimos com pensamentos, objeções, desejos e medos. É preciso tocar no fundo da alma para vivenciar as ordens do amor.
[Poema de Bert Hellinger - Constelação Familiar]

Constelação Familiar é um recente método psicoterapêutico, com abordagem sistêmica fenomenológica, de fundo filosófico, desenvolvido pelo filósofo e psicoterapêuta alemão Bert Hellinger. Trabalha os padrões de comportamento que se repetem nas famílias e grupos familiares ao longo de gerações. Traz à luz uma série de dificuldades sofridas, fazendo o terapeutizando tomar consciência, romper com padrões e mudar o curso de sua história.
Por Cintia Liana

O glamour dos médicos do novelista Manoel Carlos

Foto: Google Imagens

Não é a primeira e nem a segunda novela de Manoel Carlos em que ele coloca os médicos como semi deuses, ou melhor, como deuses, sem nenhum exagero da minha parte e o mais interessante é que o diretor da clínica sempre é o tal do “Dr. Moretti”. Que fixação!
O “ato médico”, como projeto de Lei, acabou de ser votado na Câmara dos Deputados e enviado ao Senado Federal, o qual deflagra um absurdo abuso de poder, ferindo os princípios do SUS, a autonomia das profissões e limitando o exercício dos demais profissionais de saúde.
Sou a favor da regulamentação da profissão médica, mas não que os médicos possam ganhar a autoridade de interferir em decisões de outros profissionais de outras áreas da saúde, nas quais eles não têm competência, nem conhecimento técnico. Eles poderão indicar ou contra indicar o tratamento numa área de saúde na qual eles ignoram totalmente, pois não estudaram, não fizeram uma faculdade para isso.
Ele não é o grande poderoso das áreas, não estudou todas as disciplinas de saúde, não entende mais que os outro de saúde humana, só mais que o veterinário, pois este cuida dos outros animais, dos de quatro patas, marinhos, aéreos...
Quando falamos de saúde, não podemos nos reportar somente ao corpo e nem a meros procedimentos convencionais. Têm procedimentos hospitalares que os endeusados ignoram, pois são de competência de outras áreas acadêmicas.
Temos que chamar de doutor? Quem fez doutorado? Não fizeram? Mas tudo bem, então chamemos a todos de doutor, uma República completa! Todos os outros profissionais enfermeiros, assistentes sociais... Vamos chamar por respeito ao profissional no contexto clínico, hospitalar, jurídico, como os de escola, onde chamamos todos de professor.
Solicitações corriqueiras, mas direitos iguais para todas as formações profissionais, pois somos todos necessários e importantes e e essa história de ser VIP é a coisa mais brega que já vi!
Vocês sabem o que é VIP (Very important people)? É bem cafona. Depois escrevo um artigo sobre isso.
Quando me chamavam de doutora ficava um pouco constrangida, mas entendi que são demandas naturais do contexto clínico e jurídico, afinal como chamariam uma especialista senão de doutora? Mas poderíamos inventar um termo mais adequado e justo para especialistas e não acho, de jeito algum, que um doutorado seja uma formação superior a esta, são coisas diferentes e ambas têm seu valor.

Deixo claro que não se trata de desvalorizar os médicos, eles são muito úteis, a medicina é necessária, mas é de colocá-los em seus devidos lugares, sem supervalorizá-los fantasiosamente e não deixar que diminuam ou simplesmente excluam os outros profissionais, tão competentes e necessários quanto eles no contexto de saúde.
Simplesmente o autor novelesco parece estar alheio a tudo, dando cada vez mais destaque ao médico na novela, insistindo em colocar o sujeito como o centro das atenções e fazendo o público ouvir exaustivamente frases ridículas como:

“Só médico entende esses termos” (Será que ele nunca ouviu falar em fisioterapeuta?)
"Médico não tira férias, vai a congresso" (Que ilusão...)
“Tem que estudar muito para ser médico” (Só para ser médico tem que se estudar muito? Será?)
“Um médico não para de estudar nunca” (Só o médico? Para não ser um profissional medíocre não se deve parar de estudar nunca!)
“Eu posso, eu sou médico” (Que poder é esse?)
“Médico não tem tempo pra nada” (Que mito! E os jornalistas?)
“Ele é médico, ele sabe o que fala” (Todos os médicos sabem o que falam? Tem certeza? Só acredito se você for médico!)

Com todo respeito aos médicos, inclusive a muitos queridos amigos meus, alguém diga, por favor, ao Manoel Carlos, que só em suas novelas os médicos sabem tudo. Ninguém sabe tudo! Nem Albert Einstein ou Sigmund Freud. Ninguém!
Manoel Carlos tem que conversar com João Ubaldo Ribeiro*, que em seu novo romance, “O Albatroz Azul”, escreve um interessante e inteligente capítulo, onde tem, entre outros personagens, uma parteira e um médico.
A medicina tem que sofrer um abalo, ser reciclada, pois do contrário certamente esta ciência ortodoxa estará falida. O povo está acordando, conhecendo o viés da indústria farmacêutica, entendendo que a saúde é reflexo do alimento e que a qualidade de nossas emoções e sentimentos trazem conseqüências ao nosso corpo físico.
As novas tendências da medicina estão aí, mas nem todos os seres endeusados médicos estão acompanhando.
Cada vez mais encontramos pessoas buscando outros meios de tratamento. Talvez seja por isso esse desejo de dar mais poder ao médico com esse projeto de lei, por saberem que boa parte da ciência médica ainda se refere a uma visão arcaica e ultrapassada do humano, carente de reformulações, que não está acompanhando justamente a evolução das descobertas e que muitas dessas descobertas ainda estão respaldadas somente e absolutamente no equivocado método científico, o método ocidental.
O paradigma ocidental tem como base as noções de validade, controle, predição, neutralidade, num laboratório artificial e controlado e procedimentos experimentais que possam garantir um processo livre de contaminação proveniente dos processos subjetivos. É uma empresa praticamente alienada aos processos sociais, econômicos, culturais, políticos e ideológicos. Para tornar algo “científico” é necessário passar por um crivo rigoroso. Certas verdades sutis se perdem nesse processo, pois não conseguem dar conta de serem mensuradas pelas bases do paradigma ocidental
A medicina não trabalha com a subjetividade, aspecto essencial para o tratamento de qualquer coisa quando falamos de ser humano, ser tão complexo.
Torna-se impossível, neste momento, conceber a subjetividade dentro das perspectivas científicas ocidentais, tendo em vista o nível em que esses paradigmas científicos ainda se encontram em pleno século XXI. Concordando com Edgard Morin, percebo que o momento vivenciado é mesmo o da pré-história do pensamento Humano.
Algumas pessoas ainda estão fixadas em suas idéias e fantasias infantis e dão a impressão de que não cresceram, não transcenderam. A visão que o novelista tem dos médicos é no mínimo infantil, direito dele, mas que não faça o povo brasileiro engolir isso.

Muuuuuuito bom: *João Ubaldo Ribeiro. O Albatroz Azul. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

Por Cintia Liana

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Todo psicólogo é louco? Não se iluda. Nem um pouco!

Foto: Google Imagens

“De médico e louco todo mundo tem um pouco”. Essa frase é bastante conhecida e se extendeu aos psicólogos porque vinha dos psiquiatras, profissão afim. Freud também disse “de perto ninguém é normal”. Concordo e nem gosto da palavra normal.

Mas daí, inventaram de repetir a asneira que todo psicólogo é meio doido. Nada contra os loucos, mas verdade seja dita, ficar falando isso de forma desqualificatória, descuidada, jocosa e pejorativa é, no mínimo, tolice.

Muitas vezes um louco é bem mais lúcido que um pseudo equilibrado que se intitula "normal".

Normal? Que palavrinha mais medíocre e seu conceito é bem arbitrário. Nunca quis ser normal.

Outra confusão é a idéia contrária. Achar que um psicólogo é incompetente em seu ofício só porque é espontâneo em seus momentos de lazer.

Acontece que ao invés de repetir asneiras diversas, porque não questionamos a repetição e o que estamos falando?

Normalmente as pessoas, formadas em psicologia, percorrem um caminho que envolve se submeter a processos psicoterapêuticos, ver e estudar a doença mental de perto. Aprendem que enxergar que por trás das melhores aparências podem morar histórias bem mal resolvidas, ter a certeza de que todos nós maquiamos a realidade e que sonhos são verdadeiros “mapas da minha”.

Sabemos que nada em nossa vida passa despercebido, que nada é tão simples e que não esquecemos absolutamente nada, nós guardamos em alguma gavetinha do nosso inconsciente, com uma plaquinha do lado de fora indicando que tipo de sentimento se refere àquele material guardado.

O ser que estudou psicologia com afinco e mergulhou em suas profundezas de alguma forma ou com algum trabalho transpessoal direcionado, tem a certeza de que entre o céu e a terra há mais mistérios do que a nossa vã filosofia é capaz de imaginar, assim como disse o grande gênio Shakeaspeare.

Portando, por esse saber e entender, esse indivíduo psicólogo pode ver a vida de forma um pouco diferente. Louco? Não, nem um pouco! Ele só tem uma tendência e ter relação mais estudada com o externo, observa o contexto por uma ótica mais científica, mais requintada digamos, treinada, como se usasse uma lupa imaginária. E quando esse psicólogo deflagra algo que um alguém não quer ver ou não concorda, então esse alguém se rebela, pois não queria ter consciência daquilo. Natural, é difícil se encarar.

Esperam que ele seja sério, concentrado, sorria contidamente, fale com clareza, não tenha dúvidas sobre nada, muito menos problemas pessoais. Será que existe alguém assim? E se ele é muito sério no lazer ou muito exigente em seus gostos pessoais o chamam de chato.

Costumam exigir um equilíbrio inexplicável dos psicólogos ou acham que todos são meio loucos. Eles não podem ter falhas? Isso significaria falhar em seus consultórios? Um médico não pode ter problemas de saúde, um economista passar por uma crise financeira ou um advogado sofrer um processo?

Psicólogos podem sim, ter dúvidas e problemas, mas o que vai diferenciá-los talvez das outras pessoas é a forma de resolvê-los, entendê-los, solucioná-los e manejá-los. Ser psicólogo pode facilitar, mas ele continuará sendo humano, cercado de outros humanos que constroem a vida com ele.

Será que dá para olhar uma pessoa alegre, em seu momento de lazer e só porque ele é psicólogo dizer: “Esse aí é meio maluquinho para ser psicólogo”?

A pessoa que faz esse “diagnóstico” com um CID* inventado na hora compara a alegria e a espontaneidade à loucura e ainda julga esse estado humano como incompatível com a profissão desse alguém, como se este alguém estivesse atuando como psicólogo 24 horas?

Além do mais, aprendemos na faculdade que o que faz de nós capazes de sermos um psicólogo com excelência e ter a capacidade de empatizar é justamente  sermos humanos e provar das mesmas delícias e dores que qualquer um que vem até nós pedir ajuda. No consultório, vestindo a “função”, treinados e munidos de teoria e sensibilidade é que vamos construir com o paciente um caminho de reconhecimento de tudo que é verdadeiro e que faz mais sentido para ele, e assim encontrar saídas em busca de  amadurecimento.

No geral, as pessoas insistem em duvidar dos outros. Costumar duvidar da capacidade tecnica de um psicólogo, julgando-o em seus momentos de lazer, pode significar “jogar a toalha” e dizer, “nunca farei terapia, não posso confiar num psicólogo, que é humano igual a mim”. Na verdade essa atitude mostra que você já duvida do humano mais importante: você!

*CID – Código Internacional de Doenças. Cada doença tem um código de identificação, que consta num livro (Manual).

Por Cintia Liana

Foto: Google Imagens

E por falar em julgar lúcidez e loucura, Clarice Lispector novamente me surpreende, "puxa-me pela mão e me mostra outra coisa linda que compôs":

"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Eu caminho, desequilibrada, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco. O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina. E a minha lucidez é que é perigosa".

Foto: Mônica Montone Por Rogério Felício

Dentro do mesmo assunto, lembrei de um texto de uma grande amiga, *Mônica Montone:

..."Não acredito em Arte que não transforma, nem acredito em terapia que não atue no campo da mudança, mas na área das explicações causais. Assim como não acredito em boas intenções sem segundas intenções, tampouco loucura reluzente em néon na testa de qualquer careta que se diz doidão.

O verdadeiro louco, para mim, é o bufão, o louco do Tarot. Aquele que tudo sabe e nada diz. Aquele que aprendeu a olhar, mergulhar e conviver com seus dramas. Aquele que sabe usar a palavra certa para cada tipo de ouvido. Aquele que quer ir para o norte e vai, sem desviar, mesmo pegando atalhos. Aquele que sabe o momento exato de se calar. Aquele que sabe que as agressões nada mais são do que incapacidade de lidar com medos e frustrações e por isso espera, calmamente, o tempo do outro de chegar à leveza. O que diz coisas duras, sem perder a ternura jamais.... O que descobriu um caminho para a transformação do metal em ouro e gentilmente convida o Outro para um passeio pela mesma floresta... O que não pretende responder nadar, saber nada, mas, sentir e perceber tudo.... Não o candidato à vaga de artista só para demonstrar que é contra o sistema, para sair do anonimato ou para comer alguém...

Sei que é um trocadilho infame, mas, acredito que Arte não se faz com arte [leia sapequice].... Se faz com calma, alma, sangue, sublimação e anseio de transformação..."...

Lucidez e loucura, conceitos socialmente complicados, misturados com *preconceitos, medo de conhecer e preguiça de pensar.

*Preconceito (Dicionário Houaiss) - 1. Julgamento ou opinião concebida previamente. 2. Opinião formada sem fundamento justo ou conhecimento suficiente.

Por Cintia Liana

sábado, 21 de novembro de 2009

A verdadeira inteligência



Em nosso olhar moram certezas, dúvidas, desejos, mágoas, alegrias, expectativas, e isso "contamina" o que é olhado. Dos nossos olhos até a imagem existe uma distância enorme, a distância do que se processa dentro do ser pensante. O que captamos e como captamos, uma imagem ou situação, está contaminada com uma série de preconceitos, com uma visão do que é moral, amoral ou imoral que é nossa, adquirida ao longo de nossas vidas, baseadas em nossos valores, aprendizados, costumes, hábitos familiares, da comunidade, da sociedade e cultura em que estamos inseridos e trazemos crenças e formas de pensar que às vezes ultrapassam gerações e gerações. O jeito de vivenciar e manejar aquela tal situação pode não passar de mais um ítem do repertório intergeracional familiar.
O Construcionismo Social tem uma excelente frase: “O olhar do observador deforma a realidade”. Tudo o que nós vemos está contaminado com nossas próprias referências e crenças, que às vezes arrastamos por décadas.
Aquela pessoa que você tinha certeza de que era louca, outra que era boba, ou ingênua, será que era mesmo? Ou ela era quando estava com você, que a fazia sentir-se assim? Pois é, comece a perguntar e perguntar sempre, caro amigo. Nunca é demais ter essas dúvidas.
Às vezes a gente funciona da forma que o outro espera e nem percebemos. Lindo isso! Isso é ser humando, é ser gente, ser cheio de dobraduras e possibilidades.
Penso que o ser humano inteligente é o que questiona, que quer ver além dos horizontes impostos por normas e códigos de conduta.
Precisamos abandonar o pensamento tradicional e desenvolver um pensamento pós moderno, pensamento este que entende que o ser humano tem capacidade de abarcar sistemas que são móveis e esse espaço é atemporal e ilimitado e demanda e permite um pensamento híbrido, abertura e transformação em todos os setores da vida.
O pensamento conquistado na pós-modernidade é o pensamento “transdisciplinar, transparente, que lida com a possibilidade do ser-e-não-ser e com as infinitas cores do jogo de luzes de um caleidoscópio”. (WEBER)
Fluidez paradgmática é outra característica do pensamento pós-moderno, o que não mais permite a postura maniqueísta e parcial, pois existe uma gama de solicitações existenciais. É preciso ajustar o velho com o novo e adquirirmos equilíbrio nesse momento de revolução paradigmática.

Por Cintia Liana
- Papai, inventei uma poesia.
- Como é o nome?
- "Eu e o sol".

Sem esperar muito, recitou:
- "As galinhas que estão no quintal já comeram duas minhocas, mas eu não vi."
- Sim? Que é que você e o sol têm a ver com a poesia?

Ela olhou-o um segundo. Ele não compreendera.
- O sol está em cima das minhocas, papai, e eu fiz a poesia e não vi as minhocas...

[Clarice Lispector – Perto do coração selvagem]

Lispector ainda diz: ""Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido". Ela é perfeita. Mente livre. Isso é ser inteligente!

Quanto mais abrimos nossos horizontes, mais nos tornamos inteligentes para perceber o mais sutil. Para mim, inteligência é a capacidade de enxergar e entender o que os outros nem imaginam que exista.
Em tudo mora um mistério.

Por Cintia Liana

Coisas de mim


Irene Lamprakou

Esses últimos dias estive com uma vontade imensa de escrever. Sempre gostei, mas desta vez foi especial, uma vez que desejei dividir de uma forma aberta, num blog. Dividir idéias, reflexões, anseios, inquietações, questionamentos que nos levam a ir além das aparências. Contudo estive relutante. Por vezes uma enxurrada mental de textos, temas, seguidos de um medo de colocar em prática, organizar. Parei para sentir e vejo que flui.

Verdade é que quando lemos ou escrevemos nos tornamos mais perto de nós mesmos.

Explico minha tese. Ao lermos, brota a imaginação de forma mais consciente. Produções imaginárias que mostram um pouco do que nós somos.

Quando escrevemos, produzimos material que vem de nós mesmos. Isso dá medo, porque nos mostra um pouco de nós. Mas é uma forma de renascer. Não qualifico como algo bom ou ruim, isso seria subestimar muito e simplificar esse resultado, esse conteúdo pessoal, esse processo. Digo que é difícil, porque qualquer coisa que nos mostre um pouco de nós, verdadeiramente, causa impacto, transforma, nos leva ao velho e a todas as possibilidades do novo.

E esse “eu” que me reporto não é esse "eu” vagabundo, que “flerta”, dança, vagueia e se mostra o tempo todo. Esse “eu” que insisti em estar à frente de tudo não passa de uma máscara do ego que usamos para nos relacionarmos socialmente. Ele é chamado de super ego ou, pelos Junguianos, de Persona, máscara. Eu falo de outro, do “eu sou”, de um pouco do primitivo, do “eu” criança ou agressivo, daquele que não mostramos nem para nós mesmos diante do espelho. Esse “eu” aparece, ao menos uma pontinha, assim, de forma despretensiosa, quando escrevemos, pois falamos um pouco sobre a nossa forma de ver as coisas.

Antes de nascer eu ja havia escolhido não sofrer desse mal, do mal da alienação e da ignorância do auto conhecimento. Eu cresci lendo, fazedo terapia e foi assim que tomei o gosto pela psicologia. Graças a minha mãe, uma mulher super terapeutizada e engajada nesse meio.

Adotarei mais esse meio, escreverei! Dividirei, afinal, são longos anos de estudo, pesquisa, terapia e auto-análise. Não posso desperdiçar essa troca com amigos. Quero energizar e ser energizada por “finas presenças”.

Falarei então de amores meus: arte, literatura, poesia, comportamento, psicologia, música, cinema e o que mais me der inspiração.
Sejam bem vindos ao meu espaço. Ao nosso.

Por Cintia Liana

******* Aproveito para dar notícias. Estou no Brasil atendendo alguns pacientes na clínica da Barra, mas passarei dezembro na Itáilia. Antes de viajar visitarei meus afetuosos ex-alunos da IBIS, "finas presenças" em minha vida. *******

******* Boas vindas a todos, família, pais, irmãos, tios, primos, amigos, pacientes e pessoas que conheci em minhas palestras, entrevistas em rádios e TV e que se tornaram parte importante em minha caminhada. Cara Tâmara, vc é parte disso. Lembra que vc me ouviu a primeira vez na Rádio Metrópole em 2003? rsrs *******

Obrigada por existirem em minha vida. :)