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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A liberdade de ser tolerante

Foto: Irene Lamprakou.Getty Images


Sinto compaixão por pessoas intolerantes. Realmente sinto compaixão porque ainda não tiveram a chance de se encontrarem com elas próprias.

Quanto mais intolerantes somos é porque mais coisas temos para mudar e não queremos ver, assim é mais fácil ver e falar da vida e dos erros dos outros.

Não sou Freudiana, mas concordo com o mecanismo de defesa intitulado “identificação projetiva” do gênio teórico, que diz que nos incomodamos com traços do outro que há em nós mesmos, mas o rejeitamos demais para conseguir enxergá-lo em nós, então vemos no outro e rejeitamos.

Sinto compaixão por gente mal humorada, infeliz, ansiosa, que se sente superior, mas que nem sabe o que é amar a si próprio e só está feliz quando há algum motivo especial. De gente irritadiça, que critica demais, que vê defeito na vida do outro, mas é incapaz de criticar a sua própria vida muitas vezes. De gente raivosa no trânsito ou que se incomoda demais com o comportamento alheio achando que é o centro do mundo e que todos o fazem só para tirá-lo do sério.

Sinto muita compaixão por pessoas que passam uma eternidade falando da vida alheia, apontando o erro dos outros, mas não tem a mínima noção de suas falhas e quer matar o primeiro que apontá-las. Que não consegue ficar sozinho e nem calado.

Temos que entender que precisamos deixar o outro ser como ele quer, comer, vestir, ouvir, falar, sentir, ter medo, ser feliz, viver, se apaixonar, que nem sempre estamos certos e que a nossa mais absoluta certeza pode estar redondamente equivocada. Todos temos o direito de errar, de entender e reconhecer coisas novas e saber que esses erros nos levarão a muitos outros acertos.

Penso que devamos ser intolerantes e falar mal da maldade, das injustiças, mas com o jeito e os limites dos outros? Somos diferentes mesmo e é isso que dá cor ao mundo.

Faço um exercício todos os dias, sempre que há oportunidade: sempre que vejo algo de “errado” em alguém, automaticamente tento ver duas coisas “erradas” em mim. No início dói, mas depois é bem gostoso, porque assim eu aprendo a ser mais tolerante todos os dias. No mais, só me resta sentir compaixão. E quer saber? Isso é demasiadamente libertador! Não querer mais mudar o mundo, mesmo assim ajudar a quem precisa e ter cada vez mais consciência das minhas próprias dificuldades é uma delícia.

Por Cintia Liana

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